terça-feira, setembro 19, 2006

ariano

eu tenho certos "poréns" em relação a algumas opiniões de ariano suassuna, em especial sobre seu nacionalismo exarcebado, mas isso é assunto para outro post.

entretanto, o texto abaixo mostra muitas coisas apaixonantes a seu respeito, e por isso o reproduzo aqui. além disso, me identifico com a sua origem paraibana, a paixão pelas letras provocada pelo seu pai, a necessidade do ganha-pão dando aulas, e as aulas espetáculo (que, se tudo correr bem, eu também darei um dia).

Em A história do amor de Fernando e Isaura, seu primeiro livro de ficção em prosa, escrito em 1956 e relançado recentemente pela José Olympio Editores, Ariano Suassuna retrata, com delicado lirismo, uma paixão intensa e proibida. Baseado em Tristão e Isolda, de Joseph Bédier, este é o único romance de Suassuna que não tem como pano de fundo o sertão da Paraíba, mas o litoral de Alagoas.

“Escolhi o velho mito de Tristão e Isolda e o transportei para o Nordeste dos anos 1950”, diz o consagrado autor. “Gostei muito da experiência. Até então, só tinha escrito textos para o teatro. Sentia a necessidade de escrever um romance para poder expressar coisas outras que não cabem na encenação de uma peça, cujo tempo é limitado.”

Foi através do teatro que Suassuna se projetou de forma explosiva. O público se encantou com o falastrão Chicó e seu companheiro João Grilo, personagens de
Auto da compadecida, posteriormente adaptado para minissérie na televisão e para o cinema. “É minha obra mais conhecida e mais julgada. Minha peça predileta, no entanto, é Farsa da boa preguiça”, revela. “No campo da prosa, tenho grande carinho pelo Romance d’A Pedra do Reino, lançado em 1971, um romance armorial brasileiro.”

Defensor incansável da cultura popular e das raízes brasileiras, em especial as nordestinas, o escritor nasceu em Nossa Senhora das Neves, atual João Pessoa, na Paraíba, em 1927. Quando tinha três anos, seu pai, então governador do estado, foi assassinado por motivos políticos, o que levou a mãe a se mudar com os nove filhos para o interior. A infância passada no sertão inspirou o universo ficcional de suas obras, seu “mundo mítico”, como costuma falar.

Aos 15 anos, ele mudou-se para o Recife, formando-se em Direito e em Filosofia. Trabalhou como advogado algum tempo, mas, percebendo que não tinha vocação, abandonou tudo para se dedicar à literatura e ao ensino. “No Brasil, são poucos os escritores que podem viver de literatura”, afirma. “Logo no início, quando vi que o preço seria fazer concessões ao gosto do público, resolvi tomar um rumo diferente: tornei-me professor universitário de Filosofia, meu principal ganha-pão. Assim, posso escrever só o que tenho vontade.”

Suassuna conta que a literatura passou a fazer parte de sua vida muito cedo: “Logo que me alfabetizei, comecei a ler. Às vezes, as pessoas me perguntam se tenho o hábito da leitura e respondo: ‘Mais do que hábito, eu tenho paixão’. Meu pai era um grande leitor e me deixou uma biblioteca muito boa, o que não é comum no sertão da Paraíba. Foi lá que comecei a admirar os escritores e a querer me tornar um deles. Escrevi meus primeiros contos e poemas aos 12 anos. E a primeira peça,
Uma mulher vestida de sol, um ano após ingressar na faculdade. Poesia, prosa ou teatro, tanto faz para mim, não tenho uma predileção específica. Entretanto, considero minha poesia, apesar de pouco conhecida, a fonte profunda de tudo o que escrevo, inclusive do romance e do teatro”.

O público se encanta com o lirismo e a intensidade de seus livros. Esse sucesso, porém, levou alguns anos para ser alcançado. “Até os meus 30 anos, eu escrevia uma peça de teatro por ano, que ficava na gaveta. A partir daí, não posso me queixar, minhas peças passaram a ser bastante encenadas. O
Auto da compadecida, considerado o texto mais popular do teatro brasileiro, já foi traduzido e representado em espanhol, francês, inglês, alemão, polonês, tcheco, holandês, finlandês e hebraico. O Romance d’A Pedra do Reino está na sétima edição, o que não é comum por aqui.”

Agraciado com inúmeros prêmios, o escritor foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras por aclamação em 1989. A mais recente homenagem – Cidadão Paulistano –, ele recebeu em maio, quando esteve em São Paulo para o lançamento de
A história do amor de Fernando e Isaura. Todo esse reconhecimento, a seu ver, se deve ao fato de sua literatura ser feita sempre com grande prazer e permitir que o leitor se identifique com o conteúdo. “A alegria do lazer, para mim, está nas atividades de escrever e de ler. Eu não saberia viver sem elas. A literatura é uma paixão definitiva, que abriu minha cabeça para o mundo. Eu viajo através dos livros, conheço todos os lugares. Gostaria de conhecer a Espanha, se fosse aqui em Alagoas. Como é longe, quando estou com vontade de ir à Espanha, releio Dom Quixote, de Cervantes.”

Para aqueles que estão começando na profissão, um conselho enfático: “É fundamental ler os clássicos, cultuar a chama imortal que os animava. Eles só permaneceram até hoje porque há algo profundamente ligado ao humano em seus textos.
Hamlet e Dom Quixote vão perdurar enquanto a humanidade existir. São obras contemporâneas e eternas em todas as gerações”.

Caseiro e de hábitos simples, Ariano Suassuna gosta de estar junto à família, rodeado pelos seis filhos e 15 netos. Sair do bairro da Casa Forte, no Recife, onde mora, só mesmo para ministrar o que chama de aulas-espetáculo, em que aborda a cultura brasileira de maneira ilustrada e interativa, não apenas por meio da literatura, mas também das artes plásticas e da música.


Tirado do site da Livraria Cultura

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sexta-feira, setembro 08, 2006

um bom texto

no germina literatura que discute o ensino da literatura brasileira e portuguesa nos ensino médio e superior.

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