terça-feira, fevereiro 21, 2006

(uma pausa para falar de música)

onde eu perdi o trem da história?
(ou: de repente eu acordei e o mundo se matava pelo bono vox)


nunca fui uma fã do u2, mas também nunca os odiei. sempre achei que era uma banda de rock (ou pop?) entre o médio e o bom, mas nada que me movesse de meu lugar para comprar um cd ou que me fizesse batalhar por um ingresso de show.

em 1998, eles vieram a sp com o show de promoção do cd lemon. na época, não havia quem não os criticasse, dizendo que a cara mais eletrônica deles era uma merda. “bom mesmo era o antigo rock”, diziam.

(aliás, na minha opinião, pop, e não rock)

o povo demonstrava uma aversão enorme ao eletrônico e o esse mesmo povo teria que engolir isso hoje se, claro, não tivesse se “esquecido” que um dia pensou assim. porque hoje em dia gostar de eletrônico não é só cool, mas obrigatório. e se o povo se esquece fácil do que pensou no dia anterior, imagine sobre o que pensou há 8 anos.

bom, o fato é que o u2 voltou a fazer o seu rock (pop!) e não sei que parte que eu perdi da história que eles viraram um hype tão intenso, tão intenso, que 70 mil ingressos se esgotaram em um só dia.

em 98, eu me lembro que comprei o ingresso bem em cima da hora, e por muito menos dinheiro.

mas dessa vez os ingressos de vertigo foram esgotados nos dois dias. o povo estranhamente havia esquecido da fase eletrônica e eles mesmo trataram de se “esquecer” dela. pelo que eu saiba, não tocaram nenhuma música de lemon o que, aliás, aliviaria a chatice daquele rock politicamente correto e vertiginosamente enjoado (enjoado como tudo o que causa vertigem).

então ficou assim: todo mundo se esqueceu de algumas coisas, todo mundo acreditou no marketing fenomenal e todo mundo se esganou na fila para comprar um ingresso de 200 reais para um show que me causou um “senhor” sono pela tv.

não, não consigo mesmo entender. ou eu perdi o bonde da história ou o povo não vai atrás do que existe no mundo da música.

(sou mais pela última alternativa porque show de verdade teria sido o do franz ferdinand, se tivessem recebido o devido espaço)

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quarta-feira, fevereiro 15, 2006


Acabei de ler "Scar Tissue", a biografia de Anthony Kieds, vocalista do Red Hot Chili Peppers. Supostamente eu escreveria algo aqui, mas estou tão encantada que deixo este post vazio, sem conteúdo, para que ele possa se encher apenas de admiração por alguém tão especial.

(Prometo que falo sobre o livro em breve).

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segunda-feira, fevereiro 06, 2006


O Homem que Sabia Javanês é um conto ingênuo e ao mesmo tempo cheio de humor negro. Ingênuo porque a mentira do personagem principal começa quase que como uma brincadeira e começa a tomar proporções absurdas sem ninguém se dar conta. Humor negro porque sabemos que muita gente ao nosso redor faz a mesma coisa: se vangloria de algo que não tem. Li esse conto pela primeira vez na adolescência e acabei de achá-lo for free na internet aqui.

Para nos dar coceiras nas mãos, a Cosac&Naify lançou essa maravilhosa edição com ilustrações de Odilon Moraes. Ai que vontade que dá.

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sexta-feira, fevereiro 03, 2006


Sobre os best-sellers
Parte 3

No geral, não costumo nem chegar perto de best-sellers. Fujo das prateleiras lotadas de Norah Jones, Paulo Coelho e Roberto Shinyashiki como o diabo foge da cruz. Tenho preconceito, admito, e não é preconceito gratuito: abra um livro destes, me mostre alguma beleza literária e ganhe um doce. Pode cobrar de mim. Excetuando os livros dos dois posts anteriores, nunca tive contato com nada tão pop, a não ser Agatha Christie (que adoro, aliás). Mas nessa (já antiga) onda Harry Potter, decidi ceder e ver o que esse bruxo tinha de tão interessante.

Não podemos falar de estética aqui, afinal de contas, o livro é para crianças (ou era para ser), mas podemos e devemos falar de criatividade, construção de personagens, referências e muitas outras coisas.

Peguei o primeiro livro emprestado sem nenhuma expectativa e como geralmente acontece quando não se tem expectativas, fui surpreendida pela capacidade da autora em juntar em uma mesma história tantas referências distintas: estão ali, convivendo pacificamente, lendas celtas, lendas gregas, atualidade inglesa, o sempre recorrente mito da pedra filosofal e muito mais coisas que eu não devo lembrar agora ou que sequer devo ter percebido por ter feito uma leitura mais rasa.

As personagens, muito bem construídas, representam os perfis mais característicos de adolescentes, o excessivamente estudioso, o desligado, o que nasceu com talento natural, o maldoso, etc. Já ouvi muitas críticas afirmando que os personagens são estereotipados. Ora, isso seria um problema se a autora não pretendesse que eles assim fossem, mas é nítida a intenção dela em representar cada caracter como representante de um perfil, de uma raça, de um povo ou de uma personalidade. Como exemplo, ouso citar as meninas de Sex and The City que não são estereotipadas em hipótese alguma, como costumam dizer por aí. Qualquer olhar um pouco mais atencioso percebe que as três amigas de Carrie representam os traços essenciais de uma mulher de 30 anos: a sexualidade, o profissionalismo e o romantismo, tudo convivendo junto em um caldeirão de aventuras diárias.

E, além de tudo, Harry Potter abre portas para uma legião de crianças que hoje, com o vício chamado internet, têm tão pouco acesso à leitura. Não devemos nos esquecer que muitos de nós temos hoje amor aos livros por causa do Monteiro Lobato ou por causa daqueles disquinhos coloridos com fábulas dos Irmãos Grimm ou de Andersen. Talvez Harry Potter esteja tomando o papel que um dia coube, no Brasil, ao Lobato. Se for para desenvolver o hábito da leitura nas crianças (ou até mesmo nos adultos), que Harry Potter seja um best-seller. Que assim seja.

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