quinta-feira, junho 29, 2006

E nessa época de desespero total em que tenho que entregar alguns trabalhos na faculdade que estão tirando o meu sono (hoje é o último!), continuo na onda de postar textos alheios. Esse é uma resenha que li no Submarino quando fui colocar o livro O Castelo de Otranto, de Horace Walpole, na minha lista de desejos.

É uma ótima lista para quem gosta da literatura fantástica e/ou de terror.

Horace Walpole simplesmente inventou um dos gêneros literários que mais vende no mundo. "O Castelo de Otranto" é o marco zero da literatura fantástica (terror). Após ele, vieram "O Italiano" e "Os Mistérios de Udolfo", de Ann Radcliffe, a mãe do gênero. Além destes, surgiram "O Monge", de Matthew G. Lewis, a fabulosa aventura "a la" mil e uma noites (de terror) "Vathek", de William Beckford, o delirante "O Manuscrito de Saragoça", de Ian Potocki e aquela que é a obra que fechará o primeiro período dessa maravilhosa literatura: "Melmoth, o Viandante", do Pastor Charles Maturin, sem dúvida a mais aterrorizante de todas. Então virão outros grandes livros como "Frankenstein", "O Mortal Imortal" e "O Último Homem", de Mary Shelley, Edward Bulwer-Lytton, com "Zanoni", as aventuras detetivescas de Wilkie Collins, como "A Pedra da Lua", e as Aventuras de Sherlock Holms, criadas por Conan Doyle. John Polidori, que escreveu o primeiro relato de vampiros: "O Vampiro", Emily Bronte com sua única obra, "O Morro dos Vento Uivantes", além de aventuras macabras e exóticas como "Ela", de Henry R. Haggard e o terror tecnológico de H. G. Wells, com "A Ilha do Doutor Moreau" e "A Máquina do Tempo", entre outras obras. Após virão "O Médico e o Monstro", de Stevenson, "O Golem", de Meyrink, ", "O Dybbuk", de Ansky, "O Grande Deus Pan", de Machen e as magníficas obras de Bram Stoker: o primoroso "Drácula", "A Toca do Verme Branco" e "A Jóia das Sete Estrelas". Até hoje o livro de Walpole gera frutos poderosos que alimentam o medo e a fantasia humana. Adquira todos!!!"
B. Rocrich (lordcaliph@pop.com.br) de Gurupi, 21/03/2005

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terça-feira, junho 27, 2006

Li este texto no site Cronopios e achei interessante. Um dia ainda me aventuro no Ulysses...

Uma ou duas coisas que eu aprendi sobre o Ulysses
Por Caetano Waldrigues Galindo

Há quatro anos eu estou trabalhando com o Ulysses diariamente. Meio que até quando estou dormindo (as pessoas que tem que me agüentar que tiveram que me agüentar!). O Ulysses é talvez o exemplo mais famoso de livro complexo, difícil, e pouca gente se habilita a estudar o bicho mais a fundo. O que me transformou em pouco tempo em autoridade disponível no mercado. Sabe como? Similar nacional.. Agora em Junho eu entrego a minha tese, e com ela a tal tradução integral e inédita do Ulysses. Aproveitando a deixa, eu queria te dizer umas coisas. Comentários de viajante pra quem quer fazer as malas. Não muito mais que isso.

1. Qualquer leitor de literatura séria (alguém que transite por Flaubert, Tchékhov, Machado, Faulkner.. ou congêneres) não só pode como deve ler o Ulysses.

2. É perfeitamente possível para esse leitor compreender o livro. Ele não é um tratado arcano de simbologias e cifras insondáveis. É só um livro.

3. Esse cara vai ter trabalho pra dedéu. Porque

4. O Ulysses, como Johann Sebastian Bach, por exemplo, não inventou muita coisa. No fundo, no fundo, quase tudo que aparece no livro já tinha aparecido em um ou outro lugar. Mesmo o famoso fluxo de consciência, que o velho Joyce fez questão de dizer que tinha copiado de Dujardin. O problema é que nunca tudo tinha aparecido junto, em um livro só, o que acarreta um agravante e se vê amplificado por um detalhe.

5. O AGRAVANTE: O Ulysses é um dos livros mais variados que você vai poder encontrar. Ele não pára quieto. Para cada um dos 18 episódios Joyce montou uma técnica diferente, recursos novos e efeitos diversos. Quando você acha que se acostumou, o livro muda de cara bem na tua frente, o que tem uma conseqüência e se vê colorido por outro agravante.

6. A CONSEQÜÊNCIA: Você precisa aprender o Ulysses. E na maioria das vezes ele mesmo há de ser o melhor professor. É como matemática. O problema há de sempre ser quando você passa adiante sem ter dominado perfeitamente o passo anterior. E o livro é bem paciente. Ele vai te dando, passo a passo, as dicas necessárias pra você poder dar o outro... passo. Gradualmente, pois

7. O OUTRO AGRAVANTE: O livro transcorre em um só dia (16 de junho de 1904, o Bloomsday dos aficionados). Mas isso não é grandes coisas. O barato é que o livro é um dia. Ele tem um biorritmo. Ele acorda lento, atinge um ápice de empolgação e depois fica com sono. E dorme, inclusive. Ou seja, pode esperar que à medida que o livro fique com sono as coisas fiquem mais difíceis de entender. Já que

8. O DETALHE (cf. 4): Todas as técnicas literárias empregadas por Joyce no Ulysses (e isso vale mais ou menos a mesma coisa que dizer todas as técnicas literárias empregadas no grosso da produção romanesca até hoje) são espremidas até a última gota. Fazer o narrador acompanhar de perto o personagem não era novidade. Mas o grau a que isso vai no Ulysses chega a ponto de tornar difícil a compreensão do episódio da Biblioteca, por exemplo, se você não lembra que Dedalus está bêbado. Escrever uma cena de alucinação não era novidade, mas fazer isso durante mais de cem páginas, dando voz até a um pedaço de sabonete.. enfim.

9. O livro, depois que você descasca as dificuldades, é muito, muito, muito engraçado. De rir em voz alta mesmo. E muito comovente em dúzias de trechos. Muito lindo. Até nesse quesito ele é variado. Por favor não pense que difícil seja inequivocamente sinônimo de sisudo. O Joyce da maturidade era essencialmente um escritor cômico.

10. Joyce uma vez disse que seus livros eram escritos para um leitor ideal, acometido de uma insônia ideal. Ora, foi ele mesmo o cara que declarou que nada esperava desse leitor, a não ser que ele dedique a vida inteira a ler meus livros. Os dois maiores romances de Joyce, Ulysses e Finnegans Wake, não acabam. Você vai passar efetivamente a vida relendo nos momentos de insônia ideal e vendo coisas novas e interessantes. Mas, como o próprio Joyce escreveu no Wake, este sim o livro mais escabrosamente difícil que você consiga imaginar: Paciência. E lembre que a paciência é a grande coisa e acima de todas as outras coisas nós devemos evitar estar ou ficar sem paciência.

Eu não pretendo parar de ler o Ulysses. Alguém aí se habilita a fundar um grupo de leitura? Enquanto isso, tomem uma Guinness e façam a festa do dia do juívo fingal.

Caetano Waldrigues Galindo é professor de lingüística histórica na Universidade Federal do Paraná. Já publicou traduções do romeno (Lucian Blaga) e do inglês (Djuna Barnes e Charles Darwin. No prelo: Saul Bellow). É o pierremenárdico autor de uma tradução inédita do Ulysses, de James Joyce. Contato: olapaonahileia@hotmail.com

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terça-feira, junho 06, 2006
















Tudo muda

Tudo muda. Começar de novo
Tu podes, com o último alento.
Mas o que está feito, está feito. E a água
Que atiraste ao vinho, não podes
Mais retirar.

O que está feito, está feito. A água
Que atiraste ao vinho, não podes
Mais retirar, mas
Tudo muda. Começar de novo
Tu podes com o último alento.

Bertold Brecht
Tradução de Modesto Carone Netto

A versão original:

Alles wandelt sich

Alles wandelt sich. Neu beginnen
Kannst du mit dem letzten Atemzug.
Aber was geschehen, ist geschehen. Und das Wasser
Das du in den Wein gossest, kannst du
Nicht mehr herausshutten.

Was geschehen, ist geschehen. Das Wasser
Das du in den Wein gossest, kannst du
Nicht mehr herausshutten, aber
Alles wandelt sich. Neu beginnen
Kannst du mit dem letzten Atemzug.

Bertold Brecht

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