sexta-feira, novembro 04, 2005

O objetivo desse espaço era que eu escrevesse sobre literatura, à minha maneira e ao meu gosto. Mas, confesso, tenho sofrido de uma enorme preguiça de emitir minhas opiniões e formular raciocínios lógicos e consistentes. Como isso tem me deixado triste, vou pela milionésima vez tentar retomá-lo. Parafraseando meus amigos espanhóis, “a ver” se consigo.

Por hora só deixo uma dica: o livro de contos de Aníbal Machado chamado “Os Melhores Contos de Aníbal Machado” ou “Tati, a Garota”, depende da edição. Foram as histórias mais lindas e poéticas que li nos últimos tempos. Cada conto é trabalhado com delicado cuidado tanto na estrutura narrativa como na estética. A prosa é extremamente poética, leve e com toques de surrealismo.

Destaco em especial os contos “Viagem aos Seios de Duília”, uma história de volta ao passado pela qual todo mundo já passou ou um dia passará, mas que ao encontrar esse passado nota que ele já é presente e passou por muitas mudanças. E mudanças tristes, na maior parte das vezes.

Outro conto maravilhoso é o que dá nome a uma das edições do livro, “Tati, a Garota”. Foi uma das poucas vezes que chorei em um livro (na verdade, foi a segunda vez, a primeira foi com Odisseu voltando para Ítaca em “Odisséia). Neste conto, Aníbal Machado retrata de uma maneira tão leve e sensível a ingenuidade de uma criança que não há como fechar o livro e sentir um pouco da leveza que a vida pode ter de vez em quando. Aliás, o retrato da infância neste conto é totalmente contrária à imagem da criança nos contos de Otto Lara Rezende, no livro “Boca do Inferno”. Mas desse livro eu vou falar depois...

Ah, sim. Aníbal Machado (mais um mineiro no cânone brasileiro) era psiquiatra, o que explica muita coisa em suas idéias...

(Se o tempo voltasse, possivelmente hoje eu seria psiquiatra, mas voltar ao passado, como AM pensa, pode não valer a pena).

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