terça-feira, setembro 19, 2006

ariano

eu tenho certos "poréns" em relação a algumas opiniões de ariano suassuna, em especial sobre seu nacionalismo exarcebado, mas isso é assunto para outro post.

entretanto, o texto abaixo mostra muitas coisas apaixonantes a seu respeito, e por isso o reproduzo aqui. além disso, me identifico com a sua origem paraibana, a paixão pelas letras provocada pelo seu pai, a necessidade do ganha-pão dando aulas, e as aulas espetáculo (que, se tudo correr bem, eu também darei um dia).

Em A história do amor de Fernando e Isaura, seu primeiro livro de ficção em prosa, escrito em 1956 e relançado recentemente pela José Olympio Editores, Ariano Suassuna retrata, com delicado lirismo, uma paixão intensa e proibida. Baseado em Tristão e Isolda, de Joseph Bédier, este é o único romance de Suassuna que não tem como pano de fundo o sertão da Paraíba, mas o litoral de Alagoas.

“Escolhi o velho mito de Tristão e Isolda e o transportei para o Nordeste dos anos 1950”, diz o consagrado autor. “Gostei muito da experiência. Até então, só tinha escrito textos para o teatro. Sentia a necessidade de escrever um romance para poder expressar coisas outras que não cabem na encenação de uma peça, cujo tempo é limitado.”

Foi através do teatro que Suassuna se projetou de forma explosiva. O público se encantou com o falastrão Chicó e seu companheiro João Grilo, personagens de
Auto da compadecida, posteriormente adaptado para minissérie na televisão e para o cinema. “É minha obra mais conhecida e mais julgada. Minha peça predileta, no entanto, é Farsa da boa preguiça”, revela. “No campo da prosa, tenho grande carinho pelo Romance d’A Pedra do Reino, lançado em 1971, um romance armorial brasileiro.”

Defensor incansável da cultura popular e das raízes brasileiras, em especial as nordestinas, o escritor nasceu em Nossa Senhora das Neves, atual João Pessoa, na Paraíba, em 1927. Quando tinha três anos, seu pai, então governador do estado, foi assassinado por motivos políticos, o que levou a mãe a se mudar com os nove filhos para o interior. A infância passada no sertão inspirou o universo ficcional de suas obras, seu “mundo mítico”, como costuma falar.

Aos 15 anos, ele mudou-se para o Recife, formando-se em Direito e em Filosofia. Trabalhou como advogado algum tempo, mas, percebendo que não tinha vocação, abandonou tudo para se dedicar à literatura e ao ensino. “No Brasil, são poucos os escritores que podem viver de literatura”, afirma. “Logo no início, quando vi que o preço seria fazer concessões ao gosto do público, resolvi tomar um rumo diferente: tornei-me professor universitário de Filosofia, meu principal ganha-pão. Assim, posso escrever só o que tenho vontade.”

Suassuna conta que a literatura passou a fazer parte de sua vida muito cedo: “Logo que me alfabetizei, comecei a ler. Às vezes, as pessoas me perguntam se tenho o hábito da leitura e respondo: ‘Mais do que hábito, eu tenho paixão’. Meu pai era um grande leitor e me deixou uma biblioteca muito boa, o que não é comum no sertão da Paraíba. Foi lá que comecei a admirar os escritores e a querer me tornar um deles. Escrevi meus primeiros contos e poemas aos 12 anos. E a primeira peça,
Uma mulher vestida de sol, um ano após ingressar na faculdade. Poesia, prosa ou teatro, tanto faz para mim, não tenho uma predileção específica. Entretanto, considero minha poesia, apesar de pouco conhecida, a fonte profunda de tudo o que escrevo, inclusive do romance e do teatro”.

O público se encanta com o lirismo e a intensidade de seus livros. Esse sucesso, porém, levou alguns anos para ser alcançado. “Até os meus 30 anos, eu escrevia uma peça de teatro por ano, que ficava na gaveta. A partir daí, não posso me queixar, minhas peças passaram a ser bastante encenadas. O
Auto da compadecida, considerado o texto mais popular do teatro brasileiro, já foi traduzido e representado em espanhol, francês, inglês, alemão, polonês, tcheco, holandês, finlandês e hebraico. O Romance d’A Pedra do Reino está na sétima edição, o que não é comum por aqui.”

Agraciado com inúmeros prêmios, o escritor foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras por aclamação em 1989. A mais recente homenagem – Cidadão Paulistano –, ele recebeu em maio, quando esteve em São Paulo para o lançamento de
A história do amor de Fernando e Isaura. Todo esse reconhecimento, a seu ver, se deve ao fato de sua literatura ser feita sempre com grande prazer e permitir que o leitor se identifique com o conteúdo. “A alegria do lazer, para mim, está nas atividades de escrever e de ler. Eu não saberia viver sem elas. A literatura é uma paixão definitiva, que abriu minha cabeça para o mundo. Eu viajo através dos livros, conheço todos os lugares. Gostaria de conhecer a Espanha, se fosse aqui em Alagoas. Como é longe, quando estou com vontade de ir à Espanha, releio Dom Quixote, de Cervantes.”

Para aqueles que estão começando na profissão, um conselho enfático: “É fundamental ler os clássicos, cultuar a chama imortal que os animava. Eles só permaneceram até hoje porque há algo profundamente ligado ao humano em seus textos.
Hamlet e Dom Quixote vão perdurar enquanto a humanidade existir. São obras contemporâneas e eternas em todas as gerações”.

Caseiro e de hábitos simples, Ariano Suassuna gosta de estar junto à família, rodeado pelos seis filhos e 15 netos. Sair do bairro da Casa Forte, no Recife, onde mora, só mesmo para ministrar o que chama de aulas-espetáculo, em que aborda a cultura brasileira de maneira ilustrada e interativa, não apenas por meio da literatura, mas também das artes plásticas e da música.


Tirado do site da Livraria Cultura

|

sexta-feira, setembro 08, 2006

um bom texto

no germina literatura que discute o ensino da literatura brasileira e portuguesa nos ensino médio e superior.

|

quinta-feira, agosto 17, 2006

Toni Morrison

Antes de mais nada, resolvi estabelecer os dias da semana em que escreverei aqui. Quem sabe assim não me disciplino mais? Esses dias serão, à princípio, terças e quintas.

Hoje, em especial, não vou falar sobre nenhum livro que li. Vou apenas publicar um trecho do blog do Marcelino Freire, em que ele fala sobre a Toni Morrison, prêmio Nobel de literatura em 1993 e convidada da FLIP deste ano.


CAMILA, MARIANA & THAÍS

As três meninas estavam indignadas: Camila, Mariana e Thaís. "Não foi ela quem falou de fraternidade?". Verdade. A Prêmio Nobel de Literatura, Toni Morrison, sabe bem o que é isso. Crueldade. Ou mais: sabe o que é desprezo. Ou mais: exclusão. Ou pelo menos deveria saber. Explico: as três meninas enfrentaram uma fila de quase duas horas para pedir, em seus cadernos, um autógrafo da Toni. "Só assino no livro". Como? "Não assino em cadernos". Camila, Mariana e Thaís estavam indignadas. "Nós não temos dinheiro para comprar o livro dela". Nem idade. Pô! Uma delas falou feito mulher grande: "Ela está na nossa cidade. Devia nos tratar bem". Como os outros convidados as trataram, sem exceção. As meninas, de pouco mais de dez anos, foram a sensação dessa edição da FLIP. Assistiram a umas dez palestras. Batiam fotos, pesquisavam sobre os autores. Só a Toni, assim, sem dar a mínima. Foram ao coquetel de encerramento. Quem sabe, aqui, a gente consiga? Estavam aflitas, rodeando a mesa da americana. Até que um amigo das meninas resolveu ajudá-las. Venham cá e foram. "Só assino no livro". De novo: "Não assino em cadernos". Não foi ela quem publicou, entre outros, um livro chamado Amor? Oh! Quem acompanhou a cena (jornalistas, escritores, editores) ruborizou. Mas a história não terminou por aí. "Meninas, vocês poderiam comprar balas para Mrs. Morrison?". Aquele amigo das três veio pedir. Hã? Deu vontade de o Prêmio Nobel chupar bala de coco. Vou. Não vou. Vamos. "A gente mostra que a gente é melhor do que ela", disse uma das meninas. Feito mulher grande. Coração sem acreditar. Voltaram lá, com as balas. "Não são essas. São balas de coco", reclamou a escritora. Hã? Tomaram a praça de novo. E voltaram à mesa, com as guloseimas. E sem os autógrafos. Alguém sugeriu às três pequenas: "Vocês deviam ter pegado merda de cavalo. E trazido". Como se fosse um doce típico. Não. Não precisa. Repetiu uma das meninas: "a gente é melhor do que ela". Quem duvida?

|

terça-feira, agosto 15, 2006


Noite na Taverna - Álvares de Azevedo

Noite na Taverna é vista por alguns críticos como uma história que segue a narrativa de Macário, também de Álvares de Azevedo, esta inspirada claramente em Fausto. Em Macário, o personagem homônimo divide as cenas com Satã e, ao final do texto, Satã o conduz a uma orgia. Macário observa da janela de uma taverna uma sala fumacenta. Ao redor de uma mesa estão sentados cinco homens bêbados. É neste ponto que começa a narração de Noite na Taverna.

Noite na Taverna é composto por sete partes, das quais cinco são episódios independentes narrados por cinco participantes de uma orgia que ocorreu nesta sala fumacenta. Cada episódio recebe o nome daquele que o narra (Solfieri, Bertram, Gennaro, Claudius Hermann e Johann). Mais do que pelos elementos trágicos e hediondos que a compõe (violentação, corrupção, incesto, adultério, necrofilia, traição, antropofagia, assassinatos por vingança ou amor), a obra impõe-se pela estrutura: um narrador em terceira pessoa introduz o cenário, as personagens, a situação, e praticamente desaparece, dando lugar a outros narradores, as próprias personagens, como já dito, que em primeira pessoa contam, uma a uma, episódios de suas vidas aventureiras.

A unidade da obra se dá pelo local onde acontecem as narrações (na taverna) e às intervenções dos participantes, que formam uma rede entre as narrativas. Além disso, há uma unidade formada pelo clima de assombramento e catástrofe. Na última história, a presença física na roda dos homens de personagens mencionadas em uma narrativa anterior faz com que todo o ambiente fantástico e irreal dos contos se legitime como verídico. Esta estrutura antecipa em vários aspectos a narração da prosa moderna: a liberdade cênica, a dupla narração e suas confluências, a mistura do real ao fantástico, apesar de toda a atmosfera romântica byroniana.

|

quinta-feira, agosto 10, 2006


Fragmentos de uma Deusa - Giuliana Ragusa

Neste período pós-Jabuti, vou aproveitar para falar sobre um dos livros premiados, Fragmentos de uma Deusa - a Representação de Afrodite na Lírica de Safo, o segundo colocado na categoria Teoria/Crítica Literária.

Na verdade, não vou discorrer sobre ele. Vou colocar aqui uma pequena monografia que tive que escrever para meu curso de Lírica Grega, na minha graduação Letras Português-Grego, justamente para essa escritora, que foi a minha professora nesta matéria: a dedicada Giuliana Ragusa.

Este texto trata da problemática da definição de lírica grega, milênios após o seu nascimento e com grande parte da documentação, e da própria lírica, destruída pelo tempo ou pelas guerras.

***********************************************************************************
Problemas de definição da lírica grega arcaica

Apesar de diversos estudos já realizados, ainda existem muitos problemas na definição de lírica. O que seria a lírica grega exatamente? É esse um termo que se refere ao instrumento musical utilizado quando da performance da obra, ao seu metro ou ao seu conteúdo? A dificuldade em se encontrar uma resposta precisa para qualquer uma dessas perguntas está relacionada, dentre outros motivos, ao fato de a poesia lírica ter origem em uma cultura oral, de edição tardia e na forma como foi editada pelos alexandrinos.

Grande parte das definições estabelece o poema lírico como tendo o “eu” como argumento central, ou seja, dentro desta definição, “lírica” se refere a uma poesia feita em 1ª. pessoa, podendo ser contraposta à poesia épica, construída utilizando-se a 3ª. pessoa. Entretanto essa conceituação, que nos remete a Platão e Aristóteles, está longe de ser definitiva pois mesmo dentro de suas obras a classificação épica / lírica / drama não é tão clara. Platão não se refere à “lírica”, mas a “melos” que significa, originalmente, “música” (possivelmente se referindo à poesia sendo articulada com música). Já Aristóteles se refere à tragédia, epopéia e poesia ditirâmbica, aulética e citarística. Ou seja, a partir das obras de ambos os pensadores não se verifica a existência de uma “teoria lírica” definitiva.

Outra definição dada para lírica é a que a considera como manifestação advinda pós obras homéricas. Essa separação entre períodos (homérico e lírico) afirma que no período homérico o homem ainda não possuía consciência de si mesmo e quando a noção de indivíduo começou a surgir como suposta consequência do desenvolvimento da sociedade grega, surgiu também a poesia lírica. Entretanto não há evidências dessa precedência histórica da épica. Ao contrário, alguns estudos de métricas e de outros aspectos da linguagem poética revelam elementos de continuidade entre ambas as poesias e até mesmo a possibilidade da lírica ser anterior à épica. Além disso, essa hipótese leva em conta que os períodos históricos são claramente marcados na linha do tempo, ou seja, que a História se move em degraus o que, obviamente, não condiz com a realidade. Já a alegada auto-consciência própria e exclusiva dos poetas líricos também não pode ser tomada como verdadeira visto que já pode ser observada nos poemas hesiódios (Os Trabalhos e os Dias e Teogonia).

Um outro grande erro no qual críticos e/ou estudiosos incorrem é o de considerar a lírica como manifestação do “eu” do próprio poeta, assumindo uma perspectiva de análise dita biografista. Possivelmente esse tem origem em três fatores: na escassez de material que trate da vida dos poetas, o que faz extremamente sedutor o uso dos poemas para se tentar reconstruí-las, no uso frequente da 1ª pessoa e no fato de que na Antiguidade as composições dos poetas eram lidas como biográficas. De qualquer forma, trata-se de uma leitura modernizante e equivocada da lírica grega por remontar ao conceito romântico e hegeliano de poesia do século XVIII. Mesmo que a obra represente sentimentos vividos pelo autor, não se pode esquecer que existe um caminho percorrido entre esse sentimento e a construção do poema, um caminho que passa por filtros, construções linguísticas, etc, reelaborando e transformando os elementos. O uso de lugares-comuns (tópoi) na construção das obras poéticas é um indício da construção racional da mesma pelo autor (Achcar). Como afirmaram René Wellek e Austin Warren em Teoria da Literatura:

“A relação entre vida particular e a obra não é uma simplista relação de causa e efeito”. (p. 93)

Limitar o campo semântico da lírica a temas como amor, subjetivismo, sentimento, sofrimento passional, também remonta ao conceito de poesia romântica do século XVIII, além de deixar de fora inúmeras obras e fragmentos considerados líricos, mas que tratam de assuntos sexuais, vitupérios ou que se tratam de sátiras.

E há quem associe o tema da efemeridade humana à lírica grega. Mas, neste caso, como seriam consideradas as narrativas históricas encontradas entre os poemas elegíacos e jâmbicos?

Talvez uma definição mais próxima do ideal seja a de Jakobson, que afirma que, na lírica, a função poética da linguagem, centrada na organização da linguagem, se associa à função emotiva, centrada no emissor. Entretanto mesmo essa definição acaba falhando ao deixar de lado poemas como o de Safo (ACHCAR, p. 42), que não possui um eu lírico definido.

Finalmente, convém ressaltar que qualquer consideração já feita por estudiosos ou mesmo aqui neste texto não é, em hipótese alguma, definitiva, visto que o que nos restaram são, na maior parte, apenas fragmentos e textos lacunares. Toda afirmação, então, deve ser feita considerando esta perspectiva.

Tendo em vista tantos empecilhos em classificar e encontrar um padrão para “encaixar” a lírica grega arcaica, não é à toa que muitos a classificam por exclusão: lírica é aquilo que não é poesia épica e nem dramática.

Bibliografia
ACHCAR, Francisco. Lírica e Lugar-Comum. São Paulo: Edusp, 1994.
RAGUSA, Giuliana. Fragmentos de uma deusa: a representação de Afrodite na lírica de Safo. Ed. da Unicamp, 2005.

|

segunda-feira, julho 24, 2006


O Cobrador - Rubem Fonseca

O primeiro livro de Rubem Fonseca que li, A Grande Arte, não me agradou. Achei a linguagem muito vulgar e coloquial.

Certa vez me disseram que podemos não gostar de algo, ou não entender algo, se ainda não estamos preparados para isso quando as portas ainda não estão abertas para nós. E foi esse o caso. Ainda não conhecia muito de literatura a ponto de não entender que muitas vezes a arte e a estética está justamente no vulgar e no coloquial.

Se a literatura ficasse apenas na linguagem refinada e cínica de Machado de Assis, na linguagem poética de Guimarães Rosa ou na linguagem crítica de Eça de Queiroz perderíamos a expressão de uma importante parcela da nossa sociedade: a nossa. Esta parte da sociedade que tenta viver seu dia a dia, seja fugindo do terrorismo do pcc, seja assistindo à novela no fim do dia para se desligar dos problemas, seja ficando irado e soltando tudo o que está dentro da gente em verbos e palavrões. Exatamente como faz Rubem Fonseca em seus livros.

O Cobrador é um livro de contos bem distintos entre si, mas que têm em comum o fato de manterem sempre o seu foco no homem sofrido. Sofrido não pela guerra ou pelas doenças, mas pelo dia a dia, que às vezes exige muito da gente, se alimenta do nosso sangue e da nossa energia psíquica sem nos darmos conta, a não ser quando entramos em colapso. E para representar isso, escolher as palavras certas dentro do mundo coloquial é uma arte, uma grande arte, que Rubem Fonseca exerce com maestria.

O primeiro conto, que dá nome ao livro, é sobre um homem que sai pelas ruas cobrando o que lhe devem. O que lhe devem? Dignidade. Quem lhe deve? A sociedade. Na primeira cena, ele está em um consultório de dentista e se recusa a pagar a conta. Por que ele pagaria alguma coisa se ninguém lhe pagava a dignidade que ele merecia? E naquele momento ele declara que não faz mais parte daqueles que são cobrados, mas dos cobradores. Mesmo que se precise de uma arma para isso porque esse preço custa muita violência e radicalismo.

Nos outros contos, o autor passa pela Guerra do Paraguai, pelo Amazonas, passando pelo Rio de Janeiro, sempre focando figuras banais mas, que olhadas com um pouco mais de atenção, de banais não tem nada.

Não é à toa que ele tem influenciado uma geração nova de escritores brasileiros, como Marcelino Freire, por exemplo, mas que ainda têm que tomar um pouco mais de Toddinho para chegarem aos pés do seu mestre.

Agora sei que vale muito a pena retomar a Grande Arte e lê-lo com olhos mais adultos.


"...a invenção vem da imaginação e a imaginação é um labirinto em que o difícil não é a saída, é a entrada"

"... a medicina não salva ninguém da morte, se todos os médicos desaparecessem a saúde do povo nada sofreria, se não existissem médicos as pessoas seriam obrigadas a descobrir o próprio corpo e saber como ele se comunica com a mente. Ah a cabeça! coisas estranhas temos dentro da cabeça."

"Luísa supõe que sou louco. Loucura e juventude são coisas parecidas, a mente flutua sem limites por espaços e tempos vazios"


trechos do conto H.M.S. Cormorant em Paranaguá


* Rubem Fonseca nasceu 1925, em Juiz de Fora, Minas Gerais. Mesmo formado em Direito, dedicou sua vida à literatura, com mais de 20 livros lançados, dentre contos e novelas. Rubem Fonseca é conhecido não apenas por sua obra, mas também por ser avesso a conceder entrevistas e ser fotografado, assim como se a aparecer em grandes eventos públicos.

|

quarta-feira, julho 19, 2006



A Confissão de Lúcio - Mário de Sá Carneiro

Mário de Sá Carneiro, assim como Fernando Pessoa, fez parte da Geração de Orpheu. O movimento órfico foi uma revolução da literatura da época, no sentido em que deu voz e luz “a tudo quanto durante centenas de anos jazeu no tenebroso imaginar da nossa alma” (LOURENÇO, p. 143).


Os jovens escritores dessa geração “re-inventaram o caminho e a bússula” (LOURENÇO, p. 144) e guiaram a literatura para um caminho de novidade ética, psicológica e mesmo “metafísica” no momento em que modernidade, com a sua enxurrada de informações, levava as pessoas a um caos interior.

Para tentar encontrar uma saída para esse caos, o caminho era olhar para o mundo interno, entender como o eu é estruturado e como ele poderia se expressar nessa situação limite.

Entrando e mergulhando no seu interior, Mário de Sá Carneiro, novamente como Fernando Pessoa, chegou à fragmentação do “eu” mas, ao contrário deste, não conseguiu completá-la. Seus personagens apresentam fissuras no eu que revelam todo o seu drama interno. Muitas vezes, a fragmentação atinge um grau ainda maior: a pessoa não é formada por duas partes, mas por três ou até mais. Tais estilhaços da imagem mostram a própria confusão mental do sujeito poético.

Em A Confissão de Lúcio, a construção do narrador-protagonista inicia uma fragmentação da narrativa que coincide com a própria fragmentação ou desmembramento da personagem. Em um jogo ambíguo de focalização, o narrador desenvolve um sistema dinâmico que, em um primeiro momento, aproxima Lúcio de Ricardo e, em outro movimento, encarrega-se de fragmentar a imagem de um no outro. O uno é um falso duplo que, para subsistir, deve eliminar o outro.

Dentro dessa confusão mental e íntima, vários planos narrativos se fundem, tudo se mistura, e o subconsciente aparece com um importante papel dentro do todo. Nada estranho, aliás, considerando que as idéias de Freud estavam começando a entrear em voga na época. De acordo com Freud, o homem deve libertar sua mente da lógica imposta pelos padrões comportamentais e morais estabelecidos pela sociedade e dar vazão aos sonhos e as informações do inconsciente.

Neste mesmo período da década de 20, surge o movimento Surrealista em Paris, “oficializado” pelo Manifesto Surrealista, de André Breton. O Surrealismo, a grosso modo, pregava a manifestação e a utilização do inconsciente nas suas obras que abrangiam poesia, pintura, prosa, escultura, fotografia, cinema e intervencionismo.

Ou seja, é dentro deste contexto de fragmentação do eu diante da modernidade, do surgimento das idéias freudianas e do Surrelismo que Mário de Sá Carneiro constrói sua obra. Não é difícil, portanto, entender o porquê do surgimento de atmosferas oníricas em A Confissão de Lúcio. Nelas, o sujeito parece se encontrar entre adormecido e acordado e, por isso, a sua confusão de pensamentos é latente. Para configurar ainda mais essa atmosfera, ocorre uma superposição de planos, o real e o onírico, confluindo para a afirmação de que o eu é o outro.

Interessante também é notar o uso da luz na construção das imagens oníricas: a luz está muito ligado ao universo do sonho, mas também ao universo simbolista. O Simbolismo costuma trabalhar em uma obra os dois sentidos da palavra, o significado e o significante, e aposta em uma sintaxe menos estruturada. Essa desconexão sintática é sutil e faz com que o leitor vá “preenchendo os vazios” durante a leitura. Ora, esse aparente “desconexo” e a distribuição de “brancos” para o leitor evoca ainda mais uma atmosfera de sonho.

A título de curiosidade, um outro exemplo importante da utilização da luz na evocação de uma atmosfera onírica, é a cena do jantar organizado pela americana. Nesta cena, o fogo condensa simbolicamente a novidade defendida pela estrangeira: a voluptuosidade é uma arte e a vida é voluptuosa. A imagem do fogo e da luz aparece sob múltiplas variantes: de alucinação, de quase loucura, do excesso de sofrimento; mas também corresponde à chama do amor espiritual e erótico. Com efeito, o fogo está associado à ideia da rápida transformação do material ao (quase) imaterial.

Bibliografia
LOURENÇO, Eduardo. Tempo e Poesia. Lisboa: Relógio D’Água Editora. pp. 143-168.
CARNEIRO, Mário de Sá. A Confissão de Lúcio. São Paulo: Ediouro, 2002.

|

sábado, julho 15, 2006

bukowsky

esta poema é traduzido do espanhol (por mim) e não direto do inglês, ou seja, muita coisa aqui se perde. estou traduzindo do espanhol porque é a versão que tenho, são umas poesias que comprei no metrô de buenos aires (em buenos aires é assim, os sem emprego não vendem balas, vendem poesia)

Que se dane todo o mundo

A carne cobre o osso
e dentro lhe põem
um cérebro e
às vezes uma alma,
as mulheres jogam
vasos contra as paredes
e os homens bebem
muito
e ninguém encontra
o outro
mas continuam
buscando
de cama
em cama.
A carne cobre
o osso e a
carne busca
algo mais que
carne.
Não há nenhuma
possibilidade:
estamos todos envolvidos
por um destino
singular.
Ninguém encontra jamais
o outro.
As favelas se enchem
os lixões se enchem
os manicômios se enchem
os hospitais se enchem
as tumbas se enchem

nada mais
se enche.

|

quinta-feira, junho 29, 2006

E nessa época de desespero total em que tenho que entregar alguns trabalhos na faculdade que estão tirando o meu sono (hoje é o último!), continuo na onda de postar textos alheios. Esse é uma resenha que li no Submarino quando fui colocar o livro O Castelo de Otranto, de Horace Walpole, na minha lista de desejos.

É uma ótima lista para quem gosta da literatura fantástica e/ou de terror.

Horace Walpole simplesmente inventou um dos gêneros literários que mais vende no mundo. "O Castelo de Otranto" é o marco zero da literatura fantástica (terror). Após ele, vieram "O Italiano" e "Os Mistérios de Udolfo", de Ann Radcliffe, a mãe do gênero. Além destes, surgiram "O Monge", de Matthew G. Lewis, a fabulosa aventura "a la" mil e uma noites (de terror) "Vathek", de William Beckford, o delirante "O Manuscrito de Saragoça", de Ian Potocki e aquela que é a obra que fechará o primeiro período dessa maravilhosa literatura: "Melmoth, o Viandante", do Pastor Charles Maturin, sem dúvida a mais aterrorizante de todas. Então virão outros grandes livros como "Frankenstein", "O Mortal Imortal" e "O Último Homem", de Mary Shelley, Edward Bulwer-Lytton, com "Zanoni", as aventuras detetivescas de Wilkie Collins, como "A Pedra da Lua", e as Aventuras de Sherlock Holms, criadas por Conan Doyle. John Polidori, que escreveu o primeiro relato de vampiros: "O Vampiro", Emily Bronte com sua única obra, "O Morro dos Vento Uivantes", além de aventuras macabras e exóticas como "Ela", de Henry R. Haggard e o terror tecnológico de H. G. Wells, com "A Ilha do Doutor Moreau" e "A Máquina do Tempo", entre outras obras. Após virão "O Médico e o Monstro", de Stevenson, "O Golem", de Meyrink, ", "O Dybbuk", de Ansky, "O Grande Deus Pan", de Machen e as magníficas obras de Bram Stoker: o primoroso "Drácula", "A Toca do Verme Branco" e "A Jóia das Sete Estrelas". Até hoje o livro de Walpole gera frutos poderosos que alimentam o medo e a fantasia humana. Adquira todos!!!"
B. Rocrich (lordcaliph@pop.com.br) de Gurupi, 21/03/2005

|

terça-feira, junho 27, 2006

Li este texto no site Cronopios e achei interessante. Um dia ainda me aventuro no Ulysses...

Uma ou duas coisas que eu aprendi sobre o Ulysses
Por Caetano Waldrigues Galindo

Há quatro anos eu estou trabalhando com o Ulysses diariamente. Meio que até quando estou dormindo (as pessoas que tem que me agüentar que tiveram que me agüentar!). O Ulysses é talvez o exemplo mais famoso de livro complexo, difícil, e pouca gente se habilita a estudar o bicho mais a fundo. O que me transformou em pouco tempo em autoridade disponível no mercado. Sabe como? Similar nacional.. Agora em Junho eu entrego a minha tese, e com ela a tal tradução integral e inédita do Ulysses. Aproveitando a deixa, eu queria te dizer umas coisas. Comentários de viajante pra quem quer fazer as malas. Não muito mais que isso.

1. Qualquer leitor de literatura séria (alguém que transite por Flaubert, Tchékhov, Machado, Faulkner.. ou congêneres) não só pode como deve ler o Ulysses.

2. É perfeitamente possível para esse leitor compreender o livro. Ele não é um tratado arcano de simbologias e cifras insondáveis. É só um livro.

3. Esse cara vai ter trabalho pra dedéu. Porque

4. O Ulysses, como Johann Sebastian Bach, por exemplo, não inventou muita coisa. No fundo, no fundo, quase tudo que aparece no livro já tinha aparecido em um ou outro lugar. Mesmo o famoso fluxo de consciência, que o velho Joyce fez questão de dizer que tinha copiado de Dujardin. O problema é que nunca tudo tinha aparecido junto, em um livro só, o que acarreta um agravante e se vê amplificado por um detalhe.

5. O AGRAVANTE: O Ulysses é um dos livros mais variados que você vai poder encontrar. Ele não pára quieto. Para cada um dos 18 episódios Joyce montou uma técnica diferente, recursos novos e efeitos diversos. Quando você acha que se acostumou, o livro muda de cara bem na tua frente, o que tem uma conseqüência e se vê colorido por outro agravante.

6. A CONSEQÜÊNCIA: Você precisa aprender o Ulysses. E na maioria das vezes ele mesmo há de ser o melhor professor. É como matemática. O problema há de sempre ser quando você passa adiante sem ter dominado perfeitamente o passo anterior. E o livro é bem paciente. Ele vai te dando, passo a passo, as dicas necessárias pra você poder dar o outro... passo. Gradualmente, pois

7. O OUTRO AGRAVANTE: O livro transcorre em um só dia (16 de junho de 1904, o Bloomsday dos aficionados). Mas isso não é grandes coisas. O barato é que o livro é um dia. Ele tem um biorritmo. Ele acorda lento, atinge um ápice de empolgação e depois fica com sono. E dorme, inclusive. Ou seja, pode esperar que à medida que o livro fique com sono as coisas fiquem mais difíceis de entender. Já que

8. O DETALHE (cf. 4): Todas as técnicas literárias empregadas por Joyce no Ulysses (e isso vale mais ou menos a mesma coisa que dizer todas as técnicas literárias empregadas no grosso da produção romanesca até hoje) são espremidas até a última gota. Fazer o narrador acompanhar de perto o personagem não era novidade. Mas o grau a que isso vai no Ulysses chega a ponto de tornar difícil a compreensão do episódio da Biblioteca, por exemplo, se você não lembra que Dedalus está bêbado. Escrever uma cena de alucinação não era novidade, mas fazer isso durante mais de cem páginas, dando voz até a um pedaço de sabonete.. enfim.

9. O livro, depois que você descasca as dificuldades, é muito, muito, muito engraçado. De rir em voz alta mesmo. E muito comovente em dúzias de trechos. Muito lindo. Até nesse quesito ele é variado. Por favor não pense que difícil seja inequivocamente sinônimo de sisudo. O Joyce da maturidade era essencialmente um escritor cômico.

10. Joyce uma vez disse que seus livros eram escritos para um leitor ideal, acometido de uma insônia ideal. Ora, foi ele mesmo o cara que declarou que nada esperava desse leitor, a não ser que ele dedique a vida inteira a ler meus livros. Os dois maiores romances de Joyce, Ulysses e Finnegans Wake, não acabam. Você vai passar efetivamente a vida relendo nos momentos de insônia ideal e vendo coisas novas e interessantes. Mas, como o próprio Joyce escreveu no Wake, este sim o livro mais escabrosamente difícil que você consiga imaginar: Paciência. E lembre que a paciência é a grande coisa e acima de todas as outras coisas nós devemos evitar estar ou ficar sem paciência.

Eu não pretendo parar de ler o Ulysses. Alguém aí se habilita a fundar um grupo de leitura? Enquanto isso, tomem uma Guinness e façam a festa do dia do juívo fingal.

Caetano Waldrigues Galindo é professor de lingüística histórica na Universidade Federal do Paraná. Já publicou traduções do romeno (Lucian Blaga) e do inglês (Djuna Barnes e Charles Darwin. No prelo: Saul Bellow). É o pierremenárdico autor de uma tradução inédita do Ulysses, de James Joyce. Contato: olapaonahileia@hotmail.com

|

terça-feira, junho 06, 2006
















Tudo muda

Tudo muda. Começar de novo
Tu podes, com o último alento.
Mas o que está feito, está feito. E a água
Que atiraste ao vinho, não podes
Mais retirar.

O que está feito, está feito. A água
Que atiraste ao vinho, não podes
Mais retirar, mas
Tudo muda. Começar de novo
Tu podes com o último alento.

Bertold Brecht
Tradução de Modesto Carone Netto

A versão original:

Alles wandelt sich

Alles wandelt sich. Neu beginnen
Kannst du mit dem letzten Atemzug.
Aber was geschehen, ist geschehen. Und das Wasser
Das du in den Wein gossest, kannst du
Nicht mehr herausshutten.

Was geschehen, ist geschehen. Das Wasser
Das du in den Wein gossest, kannst du
Nicht mehr herausshutten, aber
Alles wandelt sich. Neu beginnen
Kannst du mit dem letzten Atemzug.

Bertold Brecht

|

sexta-feira, maio 19, 2006

Contos Fantásticos do Século XIX - escolhidos por Ítalo Calvino

Tenho uma certa implicância com coletâneas de contos de autores diversos. Não me sinto à vontade porque não consigo me aprofundar no estilo deles; um conto apenas de cada não me permite ter muitas idéias a este respeito.

Resolvi abrir mão da minha implicância no final do ano passado, quando meu (maravilhoso) professor de Literatura Brasileira indicou “Contos Fantásticos do Século XIX”. Os contos desse volume foram selecionados por Ítalo Calvino e (óbvio) são exemplos de literatura fantástica.

Para quem não sabe, a literatura fantástica é diferente da literatura chamada “maravilhosa”. Um exemplo do maravilhoso na literatura é o livro “As Mil e Uma Noites”. No maravilhoso, o leitor mantém uma certa distância do que lê no sentido que ele sabe que aquilo é fruto de uma imaginação, seja particular, seja de um povo, seja de uma época. Na literatura fantástica há uma mistura entre o real e o absurdo de forma que o limite entre um e outro fique meio obscuro. Quem lê uma história fantástica não consegue dizer exatamente onde está a virada mundo real-fantasia.

Resolvi abrir uma exceção lendo este livro de coletânea para conhecer mais de perto o “fantástico” e – adivinhem? – não me arrependi nem um pouco.

Em primeiro lugar, porque um livro de contos de diferentes autores não nos dá uma perfeita idéia do estilo de cada um, mas faz com que sejamos apresentados a novos ou a desconhecidos. Depois, é só ir atrás de mais. O livro ainda me ajudou a entender e conhecer melhor o que é o “fantástico”, além daquele programa idiota que passa na Globo aos domingos à noite.

Muito interessante foi descobrir que escritores como Gogol, Balzac, Dickens e Maupassant se enveredaram neste mundo. Confesso que foi uma grande novidade. Mais compensador ainda foi ter contatos com alguns contos clássicos do gênero como os de Hoffman e Poe.

Mas atenção: aconselho fortemente que só leiam a introdução antes de cada conto apenas após a leitura do mesmo porque o Calvino fez o favor de contar algumas coisas nas introduções que acabam com o efeito surpresa.

"O elemento sobrenatural que ocupa o centro desses enredos aparece sempre carregado de sentido, como a irrupção do inconsiente, do reprimido, do esquecido, que se distanciou de nossa atenção racional. Aí está a modernidade do fantástico e a razão da volta do seu pretígio em nossa época".
Ítalo Calvino, na introdução ao livro “Contos Fantásticos do Século XIX”

|

quinta-feira, maio 11, 2006

Modernidades

Meu podcast: http://www.butterfly.podomatic.com/

|

segunda-feira, maio 08, 2006

Onde a Angústia roendo um não de pedra
Digere sem saber o braço esquerdo,
Me situo lavrando este deserto
De areia areia arena céu e areia.....

[Estrofe inicial do livro O rei menos o reino, de Augusto de Campos]

|

sexta-feira, maio 05, 2006


A se pensar

"... Cada sociedade cria as suas manifestações ficcionais, poéticas e dramáticas de acordo com seus impulsos, as suas crenças, os seus sentimentos, as suas normas, a fim de fortalecer em cada um a presença e atuação deles.

Por isso é que nas nossas sociedades a literatura tem sido um instrumento poderoso de instrução e educação, entrando nos currículos, sendo proposta a cada um como equipamento intelectual e afetivo.

...

A respeito desses dois lados da literatura, convém lembrar que ela não é uma experiência inofensiva, mas uma aventura que pode causar problemas psíquicos e morais, como acontece com a própria vida, da qual é imagem e transfiguração. Isto significa que ela tem papel formador da personalidade, mas não segundo as convenções; seria antes segundo a força indiscriminada e poderosa da própria realidade. Por isso, nas mãos do leitor o livro pode ser fator de perturbação e mesmo de risco. Daí a ambivalência da sociedade em face dele, suscitando por vezes condenações violentas quando ele veicula noções ou oferece sugestões que a visão convencional gostaria de prescrever. No âmbito da instrução escolar o livro chega a gerar conflitos, porque seu efeito transcede as normas estabelecidas.

Numa palestra feita há mais de 15 anos em reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência sobre o papel da literatura na formação do homem, chamei a atenção entre outras coisas para os aspectos paradoxais desse papel, na medida em que os educadores ao mesmo tempo preconizam e temem o efeito dos textos literários. De fato (dizia eu), há “conflito entre a idéia convencional de uma literatura que eleva e edifica (segundo os padrões oficiais) e a sua poderosa força indiscriminada de iniciação na vida, com uma variada complexidade nem sempre desejada pelos educadores. Ela não corrompe nem edifica, portanto; mas, trazendo livremente em si o que chamamos o bem e o que chamamos o mal, humaniza em sentido profundo, porque faz viver”."


In: Vários Escritos - O Direito à Literatura, de Antônio Cândido.

|

quinta-feira, maio 04, 2006

Quero ir na City Lights!
(do site Cronópios)

4/5/2006 00:56:00A Geração Beat em San Francisco e a Liberdade de Expressão – City Lights Book Store - parte II
Por Paula Valéria Andrade

Se alguma cidade americana merece o titulo de “parada dos Beats” esse lugar é a cidade de San Francisco. Podemos considerar que aqui sim, foi o lugar e o “point” dessa geração de poetas e escritores anarquistas e revolucionários nadando contra a corrente da cultura tipicamente comercial e esmagadora de seu proprio pais. Nao podemos esquecer que New York pode se auto intitular como o berço dos Beats, lugar aonde o movimento de fato nasceu. Porém, o grupo literário chegou a sua maturidade e apogeu nacional quando articulado por aqui, na democrática cidade banhada pela baía. Foi nela que ele se enraizou expandindo seus frutos literários por todo o mundo.

Em 1950, o magnético charme de San Francisco atraiu escritores inventivos, artistas das mais variadas categorias e pensadores estudiosos e determinados contra o conservadorismo dos anos consequentes ao pós-guerra. Além do bom clima da Califórnia, as universidades e seus activistas políticos, o permitido espaço de liberdade sexual e individual e o clima natureza, paz e amor. Todos mixados num milk shake de fortes possibilidades para a literatura e suas narrativas.

Liberdade intelectual essa vigente que aflorou ainda mais com a chegada da publicação de "Howl" o livro de Allen Ginsberg lancado em torno dos anos 1960. A partir de então, San Francisco foi literalmente o porto ancorador para esta nova geracão de radicais em busca de inovações sociais. Tudo isso preparando o clima para a grande mudança comportamental que chegou mais tarde nos anos 70. Nao podemos esquecer tambem que Henry Miller manteve sua casa “além do paraíso” no Big Sur, que fica há duas horas da Bay Area. Mas isso é assunto para um próximo artigo.

A City Lights magazine foi publicada como uma irreverente revista apenas em cinco números. Por uma razão de motivos, Martin (ver artigo anterior) decidiu retornar a Nova Iorque. Com isso, Ferlinghetti comprou sua parte na sociedade por mil dólares em janeiro de 1955 e resolveu trabalhar em suas próprias idéias para o negócio. Por conta de sua formação acadêmica em Sorbonne - Paris, Ferlinghetti estava familiarizado com a tradição dos livreiros atuarem também como editores em muitas circunstâncias, inclusive para projetos especiais. Além disso ele desejava publicar pequenas edições de poesia em formato de livros de bolso com capas de papel ao invés das capas duras, mais caras e formais.

A primeira publicação da City Lights foi a coleção de imagens do “The Gone World” em 1955 com 500 cópias impressas pela refinada gráfica de David Ruff. Este foi o best-seller da época da série dos livros de bolso (Pocket Poets Series), inspirada por um similar francês editado como série dos “Poetas de Hoje” (Poets of Today series).

A partir disso com o sucesso do formato, publicaram o “Trinta Poemas de Amor em Espanhol” (Thirty Spanish Poems of Love) e “Exílio”(Exile) traduzido por Kenneth Rexroth. Em seguida vieram o “Poemas de Humor e Protesto” (Poems of Humor & Protest) de Kenneth Patchen, o famoso “Howl e outros poemas” de Allen Ginsberg, o “True Minds” de Marie Ponsot, e o “Here and Now” de Denise Levertov. Estes livros naturalmente tornaram-se a “prata da casa” e são reeditados periodicamente como os clássicos da City Lights, através de todos estes anos do seu fomento de poesia e arte independente.

O espaço da poesia Beat
Um dos últimos boêmios remanescentes da época, o Henri Lenoir, fundou o bar Vesuvio, vizinho de porta da livraria. Ele morava no segundo andar do prédio, literalmente em meio aos livros, numa das salas destinadas para o espaço de leituras e encontros poéticos. Até hoje, o espação para poesia continua o mesmo. E constitui-se em uma das maiores coleções e acervos de poesia comparada a qualquer livraria dos Estados Unidos ou até mesmo do mundo. São milhares de livros dos mais variados autores em diversas línguas. Desde Auden até Zukofsky, sem contar as seções especializadas e destinadas para literatura Beat. São poetas publicados pela City Lights, livros sobre crítica, antologias nacionais e internacionais de poesia. Além disso, frequentemente realizam eventos de leituras, festas do livro e noites de autógrafos. O calendário com as datas e horários fica disponível no próprio mural da livraria além de outros lugares do bairro, também descolados e “cults” de NorthBeach. E por último, encontramos uma pequena seleção de livros usados. Um reflexo do eco do desejo de Ferlinghetti`s , já que sua idéia original foi a de montar uma livraria desses livros de segunda mão, o nosso famoso sebo, em português. Com isso, todo o espaço mantém uma atmosfera especialmente “vintage”, como um relicário intacto pelo tempo.

Fica claro o contraste entre o clima de antiquário da City Light e as novas livrarias de cadeias corporativas, estas de espaço limpo, super iluminado e com cores claras se opondo a madeira escura dessas prateleiras que ainda sabem contar muita estória literária.Ocupando todo o restante do segundo andar, funcionava o escritório da City Lights editorial enquanto a livraria funcionava logo abaixo. Em 1960 Ferlinghetti comecou a contratar assistentes por meio período, entre eles os nomes de Joanne Joseph, Stella Levy, Jan Herman and Gail Chiarrello.

Em 1971, ele convenceu Nancy J. Peters – na Época funcionÁria da biblioteca do Congresso – para trabalhar em um projeto especial. Impressionado com sua inteligência e seu conhecimento literário acabou convidando-a para permanecer tempo integral no emprego. Desde então, atuou como diretora da empresa ao lado de Ferlinghetti. Sendo assim, ela passou a ser o coração e o espírito condutor do negócio. Ele ainda a considera hoje, como uma das melhores editoras profissionais do país. Em seguida Bob Sharrard começou a trabalhar como contador na loja em meados dos anos 70. Hoje, ele atua como o editor sênior e gerente de direitos autorais subsidiados por fundações. Elaine Katzenberger, que também começou seu trabalho na loja antes de entrar para a equipe de editores, tornou-se posteriormente diretora associada da empresa.

Atualmente, a City Lights publica não somente poesia e ficção – incluindo a grande parte de traduções - mas também livros sobre assuntos políticos e sociais. São mais de 100 livros publicados -dentro de uma linha independente das grandes corporações distribuidoras- e uma média de doze novos títulos a cada ano. As publicações assim como a loja, são basicamente famosas e reconhecidas por seu profundo comprometimento com uma democracia radical, além claro de uma política extremamente progressista. Como eles colocam muito bem no website, "Sem a editora por detrás, a loja seria apenas mais uma livraria independente perdida no meio de outras, mas trabalhando em conjunto, ambas realizaram algo de positivo impacto na cultura americana."

Em 1984, Ferlinghetti trouxe Peter como um novo sócio em um momento em que o negócio estava passando por um sério stress financeiro. Com a equipe de Paul Yamazaki, Richard Berman, Scott Davis, Gent Sturgeon, Andy Bellows, Lara Whitney, Jeff Battis, Janaki Rampura, Karl Bauer, Don Campana, Esther Morales, Luke Carmody, Mitra Ganley, Matthew Gleeson, Chanté Mouton e Tan Cao, a City Lights continuou sua trajetória e fama de excelente combinação de livraria-editora independente. Nos últimos anos, o mesmo Peter Maravelis - coordenador de eventos - organizou inúmeros e memoráveis encontros de literatura; o assessor de impresa Stacey Lewis mantém City Lights nos noticiários da mídia e o website criado por Eric Zassenhaus faz a convergência entre os importantes aspectos da loja/editora: a história, o estoque de livros, o departamento de pedidos por correio, eventos e divulgação de novidades em produtos e imprensa.

Finalmente em julho de 2001, o Conselho Supervisor de San Francisco nominou com unanimidade o prédio da City Lights Bookstore como o marco da cidade (Landmark) número 228. Tudo isso em função de “seu papel fundamental em fomentar desenvolvimento cultural e literário em San Francisco, atingindo toda a nação; e também por proteger e restaurar a livraria City Lights (em especial após o terremoto) e por publicar e proporcionar voz para escritores e artistas em todos os lugares.”

Agora, após meio século apoiando o direito à leitura, ao pensamento livre de opressões políticas, à escrita, ao debate e interlocução sobre controvérsias, City Lights de fato virou um símbolo do espírito questionador e intelectual americano. Desde Des Moines e Paris passando por Delhi e até mesmo Sidney na Austrália, as pessoas que vieram visitar o reconhecido lugar da livraria - com sua fama internacional - puderam conferir tudo com os próprios olhos e sem decepção. E ainda perceber claramente que este é o lugar do bom “ponto” de encontro em literatura e poesia na cidade.

E como Ferlinghetti costuma dizer, “Num tempo em que o consumo dominante de TV dirige a cultura e a vida das pessoas para um resultado desastroso de estupidez (‘dumbing down’) na América do Norte, City Lights ainda põe o dedo no buraco da ferida e provoca um fluxo de pensamento e aprendizado instigante sobre o desconhecido.”

Por falar nisso, a revista canadense "Adbusters" (subtítulo: Journal of the Mental Environment) nesta edição de Maio/Junho toca exatamente neste assunto sem retoques. Aliás, eles sempre estão na mira da mídia e suas ciladas de lavagem cerebral: políticas/conceituais/econômicas.E não só nos paises de língua inglesa, mas também no mundo todo. O artigo "The Media Carta Legal Battle: Back on Track" coloca exatamente a questão do direito da liberdade de expressão e opinião através de qualquer mídia, principalmente a televisiva. O artigo está na home do website e conta como a posicão anti-consumo da revista a impede de ter seu conteúdo em um canal televisivo. Além disso, eles também trazem um anúncio-campanha de uma página dizendo "TV turn off ...scape the fantasy" (desligue a TV ... escape da fantasia). Quem quiser que confira, por sinal com um design muito bom, aplausos para eles.

|

sexta-feira, abril 07, 2006


Não costumo ler biografias. Ou melhor, não costumava. Depois da de Nelson Rodrigues, da qual falo em algum post abaixo, caiu nas minhas mãos (empurrada pela minha irmã, fã convicta) a biografia do Anthony Kieds, vocalista dos Red Hot Chilli Peppers.

Comecei a leitura pela indicação da minha irmã, pela promessa dela de que a leitura seria rápida (ou seja, se o livro fosse ruim, não demoraria muito a acabar) e pelo fato de eu estar de férias e com vontade de me entregar a uma leitura longe do mundo acadêmico / literário.

O começo do livro provou o que eu já esperava: uma série de informações pessoais que não acrescentam muito e das quais, com certeza, me esqueceria 5 minutos depois de conhecê-las. Mas prossegui na leitura porque, afinal de contas, eu sou do tipo otário que nunca sai do cinema depois que o filme começa e nunca pára de ler um livro depois de ter passado da primeira página, por piores que sejam. Felizmente, tive uma grata surpresa. Não uma surpresa estética ou literária, claro, o livro nem é para isso, mas uma surpresa com o Anthony Kieds. Conforme ele e os Red Hot começam a atingir o sucesso, ele se mostra cada vez mais humano e mais doce. Vamos juntos com sua história, sentimos suas dores, seus amores, entendemos sua sensibilidade. As letras das músicas começam a fazer sentido e ele se revela um poeta contemporâneo dos melhores. Californication vira uma obra de arte. É possível começar a sentir a dor e a esperança expressas em suas músicas como se estivessem acontecendo conosco e naquele momento.

Já passei por uma experiência parecida com essa, de descobrir uma banda que já havia descoberto antes: a sensação de redescobrimento é sempre renovadora. Foi quando vi o filme “24 Hour Party People” e descobri um Joy Division que ainda não conhecia. Depois do filme, as letras do vocalista Ian Curtis deixaram de ser secas e duras aos meus ouvidos e passaram a melódicas como em um passe de mágica. Desde então nunca mais parei de ouvir Joy Division. Então, talvez eu não deixe mais de ouvir Red Hot.

Não contarei aqui mais detalhes do livro, o que eu disse até aqui já deve bastar.

Fechei o livro apaixonada por Anthony. Baixei alguns clips, decorei “Otherside” e abri um espaço para uma banda nova.

Sim, valeu a pena.

|

quarta-feira, março 29, 2006

na minha cabeça há uma série de resenhas escritas sobre uma série de livros que já li. mas ocorre que ando especialmente concentrada em meu trabalho e na minha faculdade e não sinto vontade de passar estas resenhas para o papel (ou para a net). talvez em alguns dias isso mude ou, na pior das hipóteses, jogo aqui o que tenho aprendido em minhas aulas.

|

terça-feira, março 07, 2006

estou publicando aqui não só apenas pelo mário quintana, mas pelas primeiras linhas deste texto, quando se fala sobre a beleza escondida das coisas. a se pensar.

Poesia Deslumbrante na Simplicidade

(O Globo - 4/3/2006 - por Márcio Vassallo)

Tem gente sempre disponível para a beleza. Tem belezas sempre disponíveis para a gente. Mas nem tudo é fácil de reparar. Algumas belezas e pessoas passam quase o tempo todo escondidas, invisíveis, carecendo de quem nelas repare sem pressa, e as deixe em estado de poesia; que encontre tempo para catar assombro em cena pequena. Nesse sentido, ter nas mãos toda a obra de Mario Quintana reunida pela primeira vez num volume único é uma felicidade de tirar o sono. Assim, numa edição primorosa da Nova Aguilar, com organização de Tania Franco Carvalhal, Mario Quintana - Poesia completa (Nova Aguilar, 1028 pp., R$ 170) reúne os 15 livros de um dos poetas mais apaixonantes do Brasil, capaz de criar versos líricos, deliciosos, bem-humorados, doídos, com imagens irresistíveis. Por outro lado, quem conhece um pouco a vida de Quintana sabe que ele nunca foi de transformar imagens em poesia. Na realidade, ele via poesia nas imagens, em tudo. Para ele, poesia não tem hora, é a hora que tem poesia. Então, este ano, é maravilhoso comemorar o centenário do Quintana com um livro desses, preparado com competência e sensibilidade pela crítica e professora Tania Carvalhal, que conheceu pessoalmente o poeta, e tem paixão por sua obra. Para transformar 2006 no "Ano Mario Quintana", como se fez tão bem com Erico Verissimo em 2005, o Brasil se prepara para belíssimas homenagens ao poeta gaúcho. E para inspirar o centenário, Mario Quintana - Poesia completa oferece textos derretidos de admiração, incluindo poemas de Cecília Meireles, Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, crônicas de Paulo Mendes Campos, Fausto Cunha e Paulo Rónai, entre outras celebrações de amigos e leitores do Quintana. Perfeitos para quem tem 8 ou 80 anos, os livros de Quintana, principalmente lidos assim, um depois do outro, dão um pouco de tudo ao mesmo tempo na gente. Ler sua poesia dá vontade de ir, voltar, seguir; dá vontade de parar, agir, olhar e dar um passo, um só que seja, para espalhar poesia no dia.

|

terça-feira, fevereiro 21, 2006

(uma pausa para falar de música)

onde eu perdi o trem da história?
(ou: de repente eu acordei e o mundo se matava pelo bono vox)


nunca fui uma fã do u2, mas também nunca os odiei. sempre achei que era uma banda de rock (ou pop?) entre o médio e o bom, mas nada que me movesse de meu lugar para comprar um cd ou que me fizesse batalhar por um ingresso de show.

em 1998, eles vieram a sp com o show de promoção do cd lemon. na época, não havia quem não os criticasse, dizendo que a cara mais eletrônica deles era uma merda. “bom mesmo era o antigo rock”, diziam.

(aliás, na minha opinião, pop, e não rock)

o povo demonstrava uma aversão enorme ao eletrônico e o esse mesmo povo teria que engolir isso hoje se, claro, não tivesse se “esquecido” que um dia pensou assim. porque hoje em dia gostar de eletrônico não é só cool, mas obrigatório. e se o povo se esquece fácil do que pensou no dia anterior, imagine sobre o que pensou há 8 anos.

bom, o fato é que o u2 voltou a fazer o seu rock (pop!) e não sei que parte que eu perdi da história que eles viraram um hype tão intenso, tão intenso, que 70 mil ingressos se esgotaram em um só dia.

em 98, eu me lembro que comprei o ingresso bem em cima da hora, e por muito menos dinheiro.

mas dessa vez os ingressos de vertigo foram esgotados nos dois dias. o povo estranhamente havia esquecido da fase eletrônica e eles mesmo trataram de se “esquecer” dela. pelo que eu saiba, não tocaram nenhuma música de lemon o que, aliás, aliviaria a chatice daquele rock politicamente correto e vertiginosamente enjoado (enjoado como tudo o que causa vertigem).

então ficou assim: todo mundo se esqueceu de algumas coisas, todo mundo acreditou no marketing fenomenal e todo mundo se esganou na fila para comprar um ingresso de 200 reais para um show que me causou um “senhor” sono pela tv.

não, não consigo mesmo entender. ou eu perdi o bonde da história ou o povo não vai atrás do que existe no mundo da música.

(sou mais pela última alternativa porque show de verdade teria sido o do franz ferdinand, se tivessem recebido o devido espaço)

|

quarta-feira, fevereiro 15, 2006


Acabei de ler "Scar Tissue", a biografia de Anthony Kieds, vocalista do Red Hot Chili Peppers. Supostamente eu escreveria algo aqui, mas estou tão encantada que deixo este post vazio, sem conteúdo, para que ele possa se encher apenas de admiração por alguém tão especial.

(Prometo que falo sobre o livro em breve).

|

segunda-feira, fevereiro 06, 2006


O Homem que Sabia Javanês é um conto ingênuo e ao mesmo tempo cheio de humor negro. Ingênuo porque a mentira do personagem principal começa quase que como uma brincadeira e começa a tomar proporções absurdas sem ninguém se dar conta. Humor negro porque sabemos que muita gente ao nosso redor faz a mesma coisa: se vangloria de algo que não tem. Li esse conto pela primeira vez na adolescência e acabei de achá-lo for free na internet aqui.

Para nos dar coceiras nas mãos, a Cosac&Naify lançou essa maravilhosa edição com ilustrações de Odilon Moraes. Ai que vontade que dá.

|

sexta-feira, fevereiro 03, 2006


Sobre os best-sellers
Parte 3

No geral, não costumo nem chegar perto de best-sellers. Fujo das prateleiras lotadas de Norah Jones, Paulo Coelho e Roberto Shinyashiki como o diabo foge da cruz. Tenho preconceito, admito, e não é preconceito gratuito: abra um livro destes, me mostre alguma beleza literária e ganhe um doce. Pode cobrar de mim. Excetuando os livros dos dois posts anteriores, nunca tive contato com nada tão pop, a não ser Agatha Christie (que adoro, aliás). Mas nessa (já antiga) onda Harry Potter, decidi ceder e ver o que esse bruxo tinha de tão interessante.

Não podemos falar de estética aqui, afinal de contas, o livro é para crianças (ou era para ser), mas podemos e devemos falar de criatividade, construção de personagens, referências e muitas outras coisas.

Peguei o primeiro livro emprestado sem nenhuma expectativa e como geralmente acontece quando não se tem expectativas, fui surpreendida pela capacidade da autora em juntar em uma mesma história tantas referências distintas: estão ali, convivendo pacificamente, lendas celtas, lendas gregas, atualidade inglesa, o sempre recorrente mito da pedra filosofal e muito mais coisas que eu não devo lembrar agora ou que sequer devo ter percebido por ter feito uma leitura mais rasa.

As personagens, muito bem construídas, representam os perfis mais característicos de adolescentes, o excessivamente estudioso, o desligado, o que nasceu com talento natural, o maldoso, etc. Já ouvi muitas críticas afirmando que os personagens são estereotipados. Ora, isso seria um problema se a autora não pretendesse que eles assim fossem, mas é nítida a intenção dela em representar cada caracter como representante de um perfil, de uma raça, de um povo ou de uma personalidade. Como exemplo, ouso citar as meninas de Sex and The City que não são estereotipadas em hipótese alguma, como costumam dizer por aí. Qualquer olhar um pouco mais atencioso percebe que as três amigas de Carrie representam os traços essenciais de uma mulher de 30 anos: a sexualidade, o profissionalismo e o romantismo, tudo convivendo junto em um caldeirão de aventuras diárias.

E, além de tudo, Harry Potter abre portas para uma legião de crianças que hoje, com o vício chamado internet, têm tão pouco acesso à leitura. Não devemos nos esquecer que muitos de nós temos hoje amor aos livros por causa do Monteiro Lobato ou por causa daqueles disquinhos coloridos com fábulas dos Irmãos Grimm ou de Andersen. Talvez Harry Potter esteja tomando o papel que um dia coube, no Brasil, ao Lobato. Se for para desenvolver o hábito da leitura nas crianças (ou até mesmo nos adultos), que Harry Potter seja um best-seller. Que assim seja.

|

segunda-feira, janeiro 23, 2006


Detesto ficar muito tempo sem escrever mas prometo (para mim mesma) que volto ainda essa semana. Estou escondida em um bom lugar, believe me.

(Alguém pode me dar uma dica do que fazer quando há 5 livros a serem lidos até ontem e uns 15 até fevereiro?)

|

quinta-feira, janeiro 05, 2006

Sobre os best-sellers
Parte 1


De fato eu não tive opinião formada sobre o assunto best sellers. Às vezes eu achava que eles poderiam ser – como se “propagandeia” por aí – um caminho de entrada para a boa literatura. Outras vezes eu achava que isso era um lero-lero e que as pessoas que se interessavam por best-sellers seriam, no máximo, leitores ávidos de... best-sellers.

Assim minha opinião ia mudando dependendo do humor e das opiniões que eu ia coletando. Agora está na hora de organizar os meus pensamentos e acho que já tenho bons dados para poder opinar.

Há um ano O Código Da Vinci. Um lixo. Costumo ouvir que o mérito deste livro é ter tornado públicos alguns fatos sobre a religião católica que nunca haviam sido abordados tão claramente antes. Bobagem, esse mérito poderia muito bem ser dado a uma revista de história, uma dessas Aventuras da História que se vende nas bancas de revistas, ou por uma minissérie da Globo, ou por um filme blockbuster norte-americano (está chegando aí O Código Da Vinci, o filme, com Tom Hanks... não estou tão longe da verdade, estou?). Além disso, um grande problema que vejo é a mistura de realidade e ficção; obviamente essa mistura não é um problema sempre, mas se torna um quando o adjetivo “histórico” é associado à obra. Teria o público condições de entender até que ponto vai a ficção e até que ponto vai a realidade? Qual é a garantia que as dúvidas levantadas ficam mesmo como dúvidas e estimulam as pessoas a irem atrás de mais informações? Na minha opinião, a grande maioria das pessoas toma aquilo como verdade, “que assim seja” e amém.

No final das contas, se existe um (apenas um) lado bom na febre Código Da Vinci é que a igreja pode vir a ser (mais) questionada... mas sempre tendo em mente que literariamente e esteticamente o livro é realmente muito ruim.

|

Sobre os best-sellers
Parte 2


Há mais tempo li “Quando Nietzsche Chorou”. Literariamente melhor que o “Código Da Vinci”, mas ainda assim pobre esteticamente. Sem dúvida é uma delícia ler uma teoria (ou ficção?) sobre o nascimento da terapia da fala, sobre o surgimento de algumas das teorias de Nietzche, sobre como a filosofia pode ser combinada com a psicologia e etc, mas a profundidade que o livro alcança nesses assuntos é questionável. Mas para usar um pouco da minha sinceridade, essa superficialidade não me espanta. Estou cansada de conhecer gente por aí que lê Nietzsche ou Freud só para sair desfilando suas teorias, fazendo pose de cult com suas calças jeans batidas, cabelos repicados e sebosos à la Strokes, porém é possível sentir de longe que toda a pose não passa de uma reprodução burra do que se leu. Em resumo, “Quando Nietzsche Chorou” é um bom entretenimento. E só.


(to be continued...)

|

terça-feira, dezembro 27, 2005

Uma das coisas mais gratificantes da literatura, para mim, é o "efeito surpresa". Adoro ser surpreendida: uma reviravolta inesperada na narrativa, um elemento surpresa, um sentimento escondido. Quando isso acontece eu fecho o livro e penso: "meu Deus, como eu não havia percebido isso antes?". Adoro cair nas garras do autor.

Tão prazeroso quando isso é descobrir um autor novo (novo para mim, pelo menos). Fico fascinada com o mundo novo que surge na minha frente porque é isso: um autor desconhecido é um mundo novo.

Acabei de ter todas essas experiências com Otto Lara Rezende. Não conhecia sua obra e nem seu estilo. Peguei seu livro de contos "Boca do Inferno" e embarquei.

Os contos deste livro fluem normalmente, docemente, como só os bons escritores conseguem fazer. E como todo bom escritor, Otto Lara não pára por aí: cada conto tem uma virada surpreendente. Ele joga em nossas caras de leitores ingênuos que, ao contrário de um livro, a vida não flui docemente.

As histórias têm crianças como protagonistas, mas não é porque são crianças que as histórias são lúdicas, pelo contrário. Incestos, assassinatos, auto-mutilação, tudo isso acontece no universo infantil. Em "Boca de Inferno", a afirmação de Rousseau de que o homem nasce bom e a sociedade o corrompe cai por terra. A criança pode ser má por natureza, e se a sociedade a corrompe é para fazê-la pior ainda.

Muitas pessoas que leram este livro ficaram um pouco chocadas e negavam que aquilo tudo pudesse ser viável. Mas quem não me garante que essas pessoas não estivessem falando através de suas repressões? E por que tudo o que acontece nos livros tem que ser viável?

Otto Lara Rezende sofreu com a recepção de seu pai ao livro que o condenou pelo conteúdo, claro. E toda uma crítica da época (e da atual época) fingiu que o livro não existiu. Talvez por isso que muita gente não o conhece e talvez pelo mesmo motivo ele esteja esgotado e ninguém o tenha republicado ainda. Mas escutem o que falo: vale a pena sair uma tarde de sábado para uma caçada nos sebos.

|

terça-feira, dezembro 20, 2005


Com o cronograma das aulas do Massi em mãos, eu senti falta de alguém: Nelson Rodrigues. Foi uma falta sentida, não porque eu gostasse de Nelson Rodrigues, pelo contrário. Para mim, suas peças eram repetitivas, não saíam do triângulo assassinato passional-adultério-incesto. Senti falta porque talvez aquela fosse a oportunidade de eu derrubar o meu preconceito, de entender melhor o que foi e o que fez o grande narrador de tabus.

Perguntei: “Massi, por que não vamos estudar o Nelson Rodrigues?”
E ele: “Eu tive que tirar coisas do cronograma por falta de tempo. Como o Nelson Rodrigues estava fora da linha de raciocínio do nosso curso, optei por ele, mas com dor no coração”
Eu: “É uma pena, porque eu não gosto do Nelson Rodrigues e talvez esta fosse uma oportunidade de eu acabar com este preconceito. Estava disposta a isso”
Ele: “Então leia o livro “A Menina sem Estrela”. São as memórias dele, por ele mesmo. Você não só vai entendê-lo como vai até chorar”

Poucos dias depois peguei o livro na biblioteca. De fato, Nelson Rodrigues é tudo aquilo e um pouco mais. Infância sofrida, adolescência sofrida, idade adulta sofrida. Mas não foi só isso. Nelson Rodrigues tinha opiniões fortes, conclusões aparentemente obtusas ou sem sentido:

“Só o profeta vê o óbvio”
“A fome é casta”
“O brasileiro é débil mental, ele cospe uns gênios mas depois começa novamente a babar na gravata”

Mas sempre extremamente certeiro. Porque ele via, ele enxergava as relações humanas de lá debaixo, onde ele estava. E nenhuma vida sofrida tirou essa clareza de visão dele. Nelson tirou a lente cor de rosa que as pessoas insistem em usar e enxergou a vida como ela era. Mas para ele a vida era bonita assim, dura e cheia de reviravoltas; quem vê maldade nisso tudo é a gente, não ele.

Além de tudo, Nelson Rodrigues era poético. Sim, poético. Foi uma grata surpresa ver o mundo através dos seus olhos. Para ele, uma galinha pulando o muro tinha poesia (ele trata disso no livro). O bonde, a rua das prostitutas, a redação do jornal, o sanatório dos tuberculosos (onde ele ficou internado) tinham a sua rima.

Suas tragédias familiares, sua necessidade de aprovação pela crítica, sua amizade e admiração por Manuel Bandeira e Drummond, a fonte de inspiração de cada uma de suas peças, a recorrência da morte em sua vida, está tudo lá, docemente narrado como – que surpresa – só mesmo Nelson Rodrigues conseguiria fazer.

Porque, como disse o Massi, o grande escritor é aquele que não é explicado por nenhuma corrente literária e por nenhuma crítica. O grande escritor é aquele que consegue realizar a sua obra seguindo e ao mesmo tempo derrubando todos os conceitos vigentes na época: você pensava que Nelson era um escritor de peças tabu? Não, Nelson foi um poeta.

Como ele mesmo disse: “Só o profeta vê o óbvio”

|

segunda-feira, dezembro 19, 2005

Tenho tentado aprender a fugir da “expectativa”. Não me refiro a uma expectativa específica, mas a qualquer expectativa. Sempre que ela nasce em mim, eu acabo me decepcionando. Ter expectativas de que uma festa vai ser boa, de que o fulano que você vai conhecer em um blind date é uma pessoa interessantíssima e que o seu próximo emprego será melhor do que o atual só pode resultar em nada. Pelo menos para mim é assim. Sempre foi. Mas sempre que estou descompromissada e tranquila as situações e fatos me supreendem e eu fico de queixo caído.

Nesse ano de 2005, que parece ter sido o inferno astral de 99% das pessoas que conheço, não foi diferente. No mar de merda em que eu e muita gente acabou nadando, algumas coisas se salvaram.

E uma delas foi meu curso de Literatura Brasileira 2. O foco do curso era prosa brasileira contemporânea, que eu sou fã, mas que não é exatamente a minha praia. O professor tinha fama de atrasar e faltar muito, mas fazer o quê? “Não tem um professor melhor, então vai esse mesmo”.

Durante a primeira com o Augusto Massi eu estava morrendo de sono e quase desmaiei na cadeira. Ele falava muito sobre Graciliano Ramos, mas eu não conseguia captar muita coisa.

Peguei o cronograma das suas aulas e me surpreendi: vários autores que eu não conhecia e com os quais eu faria meu primeiro contato: Dyonelio Machado, Otto Lara Rezende, Aníbal Machado, Dalton Trevisan, Raduan Nassar, Rubem Fonseca (estes dois últimos eu já conhecia). Ver uma lista de novidades sempre faz com que minhas esperanças renasçam.

O professor começou as suas aulas e foi encantando aos poucos. O Massi é aquele cara que deve ter lido de tudo na vida, mas que não só leu, como a maioria das pessoas fazem. Ele sentiu. A literatura está dentro dele, o Massi exala cheiro de livro. Nas suas análises, ele mistura literatura, sociologia, psicologia, sentimento e vida.

O Massi começou a nos ensinar os passos da crítica literária. O Massi fez com que lêssemos mais de 10 livros para o seu curso (o que nós fizemos com muito prazer). O Massi entrava na sala com um sorriso doce. O Massi entrava na sala correndo, todo afobado por estar atrasado. O Massi nos presenteou com uma série de títulos de crítica literária que devemos ler ao longo de nossas vidas e que nos servirá como primeira referência. O Massi é um cara enrolado e que parece ser gauche na vida, mas como ele mesmo nos disse, para entrar de verdade no mundo da literatura só quem está à margem da sociedade (ser gauche é ser autêntico). O Massi nos leu um conto do Rubem Fonseca e ao terminar a leitura, a sala inteira estava em êxtase. Do lado de fora, um bando de alunos mal educados falavam alto. O Massi abriu a porta e gritou: “Por favor, dá para fazer silêncio? Estamos falando de Literatura aqui” e entrou irado na sala afirmando que para falar de literatura e a gente precisa mergulhar nela. O Massi mergulha na literatura.

Então no triste 2005 algumas coisas se salvaram, sim. E algumas coisas nasceram como o respeito e a admiração por alguém que nos abriu uma nova porta. Sim, de vez em quando nós ganhamos presentes. Sim, de vez em quando a gente se surpreende com a oportunidade de sair maior de uma experiência.

Eu sei que a Literatura é grande mas, obrigada, Massi, por nos dar a certeza de que não estamos sozinhos nessa.

|

quinta-feira, dezembro 08, 2005

"La literatura light ha existido siempre. Al lado de Dickens, Balzac o Flaubert hubo otros escritores que hacían novelas dulzonas e irreales.
(...) Tenían su público (ése que ahora ve telenovelas o lee la actual literatura light) ganaban mucho dinero y no creaban ningún conflicto en el mundo literario, los límites estaban muy claramente definidos y ningún escritor verdadero los hubiera insultado porque hubiera sido una villanía. (...) Pero ahora las editoriales han hecho una combinación macabra: convertir a escritores que podrían ser serios, escritores de verdad, en escritores light. Y, en el camino contrario, algunos escritores —y escritoras- que nunca hubieran tenido ningún prestigio porque son muy malos y sólo se manejan en los límites de lo light, son impuestos como si fueran Lampedusa o Stendhal y hablan de James Joyce como de un consanguíneo. No mencionaré a ninguno por no incurrir en villanía con esas pobres almas enfermas de vanidad."

Sérgio Pitol, Prêmio Cervantes 2005

|

sexta-feira, novembro 04, 2005

O objetivo desse espaço era que eu escrevesse sobre literatura, à minha maneira e ao meu gosto. Mas, confesso, tenho sofrido de uma enorme preguiça de emitir minhas opiniões e formular raciocínios lógicos e consistentes. Como isso tem me deixado triste, vou pela milionésima vez tentar retomá-lo. Parafraseando meus amigos espanhóis, “a ver” se consigo.

Por hora só deixo uma dica: o livro de contos de Aníbal Machado chamado “Os Melhores Contos de Aníbal Machado” ou “Tati, a Garota”, depende da edição. Foram as histórias mais lindas e poéticas que li nos últimos tempos. Cada conto é trabalhado com delicado cuidado tanto na estrutura narrativa como na estética. A prosa é extremamente poética, leve e com toques de surrealismo.

Destaco em especial os contos “Viagem aos Seios de Duília”, uma história de volta ao passado pela qual todo mundo já passou ou um dia passará, mas que ao encontrar esse passado nota que ele já é presente e passou por muitas mudanças. E mudanças tristes, na maior parte das vezes.

Outro conto maravilhoso é o que dá nome a uma das edições do livro, “Tati, a Garota”. Foi uma das poucas vezes que chorei em um livro (na verdade, foi a segunda vez, a primeira foi com Odisseu voltando para Ítaca em “Odisséia). Neste conto, Aníbal Machado retrata de uma maneira tão leve e sensível a ingenuidade de uma criança que não há como fechar o livro e sentir um pouco da leveza que a vida pode ter de vez em quando. Aliás, o retrato da infância neste conto é totalmente contrária à imagem da criança nos contos de Otto Lara Rezende, no livro “Boca do Inferno”. Mas desse livro eu vou falar depois...

Ah, sim. Aníbal Machado (mais um mineiro no cânone brasileiro) era psiquiatra, o que explica muita coisa em suas idéias...

(Se o tempo voltasse, possivelmente hoje eu seria psiquiatra, mas voltar ao passado, como AM pensa, pode não valer a pena).

|

terça-feira, setembro 06, 2005

Peguei essas dicas de como cuidar de livros antigos no site-sebo Abebooks.

Tips on book care

There are many easy, fun ways to protect, clean, repair and store your books to make them more valuable. Old books require more of this care and repair than new books, so we’ll concentrate in that area.

You can find most of these products in your own home or through Brodart. The experts at Brodart will answer new questions every month.

I want to remove a label from a book, and I have run out of un-do Label Remover.
Try using a hair dryer. It can be effective in removing price tags or anything that is glued to paper. Set it on low-heat. And if your book gets wet, the hair dryer can be a valuable emergency tool for drying. Some find it effective on beginning mildew.

I am a Florida bookseller, and mildew is a problem with me though I keep the air-conditioning going? Any tips for me?
Mildew, also know as mold, can destroy a book and it can spread. Webster defines is as “a furry growth on the surface of organic matter”, and indeed your book is made of organic matter, made from materials which were (formerly) alive. The dry cleaning pad is helpful against mold. The fungi thrive on moisture and heat, so the air-conditioning is a good idea.

I’ve heard that Vaseline can be useful in book cleaning. Is this true?
Vaseline is petrolatum, (petroleum jelly), and it can be useful. A dab of it on a soft, clean cloth can often get rid of smudges on dust jackets. Wipe it on, then wipe it off with a cleaning agent like a document cleaning pad. Bookseller folklore has many household products for book care, such as nail polish remover and lighter fluid, but as a rule they are not worth the inconvenience.

What is an “art gum art eraser? Isn’t any eraser ok?
Experienced book people divide rubbers into plastic, art gum, and kneaded, and we will touch on the differences later. But the basic tool is the art gum eraser, and it is a must for any seller or lover of books. These large, soft erasers are to be used gently on pencil marks, dirt on dust jackets and covers, etc. They crumble easily, and the crumbs should be whisked away. The important thing is that they do minimum damage to your book. And keep them clean. Cut away any black surfaces, or get rid of them by rubbing on blank paper. You will find art gum erasers from Brodart.

Is there any way except taping to close (repair) a torn page?
If you do not wish to use any of the thin, acid-free tapes we market, like Filmoplast Tape, you can glue the tear shut.
1. Rest the torn page on a sheet of wax paper.
2. Run a line of acid-free glue, such as Brodart’s Bind-art adhesive, along the tear, using a fine paintbrush cotton swab, or toothpick.
3. Wipe away any excess glue with a cloth.
4. Place a second piece of wax paper on top of the tear.
5. Close the book, squeeze to apply pressure, and rest flat. Put some books on top for continued pressure for a few hours.

Practice this “Tear-in-a-wax paper” sandwich on junk mail first.

Do books require more care than, for example CDs, DVDs, etc?
Books are made mainly of paper, cloth and glue, and other organic materials. They come from live sources, like fine furniture. A comparison might be to garments made of organic materials, like silk and wool that require more care than those made from inorganic materials, like nylon.

What can be done for a book that is faded by sun?
Nothing! If a book is “sunned” (faded) then the damage is permanent, like the skin of old people who were sun worshippers. But just as people can forestall damage by applying a sunscreen, so can a book forestall UV damage with a Brodart plastic cover.

I have many soft cover books from the turn-of-the-century, and their covers are now frail. I am storing them in polyester sleeves and envelopes, but to access them I must remove them and that is weakening the covers. Suggestions?
You are right in storing frail books and ephemera in acid-free, clear envelopes and sleeves, but have you considered the Brodart "Adjustable Slip-covers"? This heavy-duty vinyl is a clear cover that is sold in exact heights. It is strong, flexible, and provides the protection and support your valuable old soft covers books need. Brodart sells them individually, so you can get a variety in different heights inexpensively. Their main use is for pocketbooks and soft cover books in general. Since they are vinyl, they are not suggested for very long-term use, since they lack the stability of polyester.

I own old books, and they usually are darkened by decades of dirt, dirt so engrained that cloths, erasers, or even Absorene Book Cleaner cannot get them to near their originals colors. Is there not a simple cheap way to get my old boards looking better?
Clean Cover Gel, a petroleum based product, seems the favorite “Cinderella” product to getting old boards looking good. Put a dab on a clean, lint-free cloth. Test on a tiny part of the board to make sure the colors are fast. Rub along the surface gently in one direction.. Wipe off with clean cloth. Note: Put some paper under the board to make sure the gel does not get on the pages. And be sure and practice this first on some books that you do not highly value.

|